Sicredi Novos Horizontes Itaí
Carlinhos Barreiros

F R I D A S

Frida sumiu. Eu já estava esperando por isso. Ou Frida desceu do caminhão ou resolveu ficar na casa antiga mesmo.

Na mudança, Frida sumiu
Na mudança, Frida sumiu

Quando eu morava na outra casa uma aranha morava no meu armário da cozinha. Sempre me perguntei como ela tinha entrado lá: de portas bem fechadas, o móvel parecia à prova das abomináveis baratas. Ou aranhas abelhudas. Mas toda vez que eu abria a porta, lá estava ela, pendurada na tábua de cima.

Era daquelas aranhas que parecem ser feitas de rabiscos e borrões. Nela só se viam as longas pernas, um monte delas. Um bichinho mais frágil que o ar. Chamei-a de Frida, sempre abismado que uma criatura tão delicada pudesse viver e se alimentar ali. Sempre me perguntei o que Frida poderia comer, haja visto que nenhum outro ser orgânico entrava lá. O bicho fez uma teia quase tão etérea quanto ela, e deslizava meio desengonçada pelo artefato. Nunca me incomodou e nem eu a ela.     

Na mudança, Frida sumiu. Eu já estava esperando por isso. Armários desmontados, armários montados, barulhos e marteladas. Ou Frida desceu do caminhão ou resolveu ficar na casa velha mesmo. Feito os gatos, que são apegados mais às casas que aos donos, dizem. Confesso que senti um pouco de falta da aranha. Já tinha me acostumado com ela e suas pernocas compridas.

Meses se passaram. Já na casa nova, de vez em quando, abria a porta do armário cedo para pegar o Nescau e me lembrava da Frida. Um excelente bicho de estimação, na minha opinião, que não enchia o saco: nada de ração, veterinários caríssimos, pelos em toda parte, vacinas, mijadas e cagadas para limpar. Ou latidos insuportáveis/brigas em cima dos telhados. Ai meus deuses do Valhalla, que saudades da Frida!

E como os deuses do Valhalla costumam ser poderosos, parece que atenderam às minhas preces: uma bela manhã, abro a mesma porta do mesmo armário para tomar café cedo e lá está ela pendurada em sua teia: Frida! Levei um susto. A xícara caiu de minha mão, espatifando-se no chão. Enfiei a cara no armário o máximo que pude para olhar: não, não era a sumida Frida, mas uma outra de sua espécie. Igualzinha: pernuda, frágil, parecendo ser feita de poeira. Para meu espanto, a Frida 2 veio com outra, que estava logo atrás. Menorzinha. Seria um filhotinho? Ou um Sr. Frido? Como se sabe, as aranhas-machos são bem menores que as fêmeas.

Mas pouco me importa o sexo dos anjos, ou das aranhas. Fiquei contente com a “volta” de Frida, que, ao que tudo indica, não me abandonou por completo. (Agora mesmo dei uma pausa e fui ao armário olhar: lá estão as duas, dormindo).

Fofas.