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Zélão

Miniconto: “A Doce Vida Digital”

Por JL Zélão

No meio daquele caminho havia o Computador, que conectava pessoas, coisas e lugares de maneira assombrosa, pelas vias impalpáveis da Internet. Não havia fios visíveis nem botões, apenas uma tela de vidro escura e lisa, onde os dedos deslizavam fáceis e as informações surgiam como mágicas e feitiços. A sensação que ele sentiu ao ter contato com tal aparelho foi de que não havia mais barreiras; uma liberdade profunda se agigantou diante dele. Enfim poderia ver lugares, conhecer pessoas, sair de dentro de seu quarto sem deixá-lo totalmente. Que milagre! E da tecnologia, ainda por cima! Amava a Tecnologia. Era o que faltava para completar sua vida!

Soube que muitos dos que ele evitava conhecer faziam uso desses aparelhos. Dentro da Rede, como chamavam, ele pôde ter contato com tais pessoas. Criou um “Perfil”, um rosto próprio, seu avatar, que com o passar do tempo foi se tornando uma extensão de si mesmo. Não podia assistir algo sem sentir necessidade de compartilhar. Aliás, a felicidade se tornou real apenas quando compartilhada. Ouvia alguma música, falava sobre ela em postagens. Conhecia um lugar nos mapas e fotos, todos deveriam ficar sabendo. Filmes e séries, tinha que publicar que havia assistido. Era uma sensação saborosa, subitamente ele era importante, ou se sentia assim, a cada curtida e cada compartilhamento. Percebeu que havia se encaixado numa “turma”, ou num padrão de pessoas que repetiam os mesmos gostos, os mesmos interesses. Que bom, pensou: tudo muito facilitado, não precisarei sair de casa nem perder horas em conversas de bares pra me tornar influente, pois de certa forma já estou influenciando essas pessoas… Era um raciocínio que lhe dava certa sensação de paz, e ele foi grato pelo Computador, por lhe oferecer tudo isso e ainda mais! Inclusive, encontrou sua futura esposa num site de encontros para solteiros!

Casou-se, tendo nas redes sociais belíssimos álbuns de fotos e vídeos do casamento, muito comentado, curtido e compartilhado. Que felicidade! Teve filhos, e a cada nascimento ficava plenamente feliz de comunicar a todos e receber o feedback instantâneo de sua completude. Trabalhou como Programador, que sorte na vida! Era a profissão que pediu a Deus Google! Julgou que teve uma vida feliz, e quando morreu, o Computador, seu grande irmão nessa vida, automaticamente criou sua página fúnebre, em sua memória, e todos puderam chorar através de Emojis e reações por ele.

JL Zélão - 12/11/17