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Carlinhos Barreiros

Na Estrada do Mosteiro

O fusquinha branco está até hoje no Museu da Wolksvagen em Wolfsburg, na Alemanha.

A antológica capa, com os Beatles atravessando a faixa de pedestres da Abbey Road (Estrada do Mosteiro)
A antológica capa, com os Beatles atravessando a faixa de pedestres da Abbey Road (Estrada do Mosteiro)

O trailer do novo “Liga da Justiça”, que estreou este fim de semana nos EUA está bombando na rede há alguns meses. Como trilha sonora, uma versão pesadíssima de “Come Together”, canção de Lennon & McCartney para o álbum “Abbey Road”, o último gravado pelos Beatles. Tão pesada a versão que eu demorei uns minutos a identificar a música, perpetrada por uma dupla que eu não conhecia: Gary Clark Jr. & Junkie XL. Muito prazer, ou “please to meet you”, como cumprimentavam os Stones quando se encontravam com Lúcifer.   

Independente do filme de super-heróis da Marvel, “Abbey Road”, de 26 de setembro de 1969 está prestes a completar 50 anos de existência. Derradeiro álbum gravado pelos 4 cabeludos ingleses, foi na verdade lançado antes do suposto ”último”, o mítico “Let It Be”, gravado antes mas mantido na geladeira pela Apple.

George Martin, o lendário produtor do quarteto entrou no estúdio aqui também, para arredondar as arestas da bolacha que ele considera “o melhor disco dos Beatles”. É, sem dúvida, o mais bem acabado deles, ao lado do incensado e temático  “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band”, que todo mundo elege sempre o “melhor disco de rock de todos os tempos”.     

De “Abbey Road”, lançado em vinil, descobriu-se depois que dos dois lados, o A seria a cara de John Lennon e o B “mais Paul”, sendo a distribuição das faixas acertada entre os dois. Na citada “Come Together”, um hino ao consumo da heroína, Lennon fazia um barulho esquisito com a boca onde murmurava “injete em mim”, quase abafado pelo baixo de Paul, que ergueu o volume do instrumento na mixagem para zoar com a brincadeira de John. George Harrison, sempre o mais tímido dos Beatles, encontrou-se finalmente em “Abbey Road” com dois sucessos retumbantes: “Something”, considerada por muita gente boa como “a música mais linda do mundo” e “Here Comes the Sun”, ode ao Astro-Rei, composto no jardim ensolarado do amigo guitarrista Eric Clapton.

Do álbum foram tirados 4 singles, todos TOP dos Mais Vendidos à época de seus lançamentos: “Come Together”, “Something”, “Here Comes the Sun” e “Oh! Darling”, a homenagem dos ingleses ao som negro do pop dos Anos 50/60 nos EUA. Foi gravado para parecer Platters, e parece mesmo. “Something” ainda iria aparecer, anos depois, como a “segunda música mais tocada no mundo”. Adivinhem a primeira? “Yesterday”, do álbum “Help!” (1965), de Lennon & McCartney, gravada por 1.700 intérpretes diferentes e a música mais executada do Século XX: sete milhões de vezes. Ainda existe essa coisa mágica, hoje em dia, essa unanimidade, no reino do pop e rock? Tenho certeza que não.

A antológica capa, com os Beatles atravessando a faixa de pedestres da Abbey Road (Estrada do Mosteiro), pertinho dos estúdios da Apple, onde eles gravavam, entrou para a História. Foram feitas apenas seis fotos, numa sessão de dez minutos. McCartney foi o autor da ideia, já que o disco, que era para se chamar “Everest”, deveria ter sua capa fotografada no pico mais alto do mundo, no Himalaia. Mas o projeto furou por falta de tempo.

O fusquinha branco está até hoje no Museu da Wolksvagen em Wolfsburg, na Alemanha. Paul Cole, o turista americano anônimo fotografado por acaso virou celebridade depois do disco lançado, dando entrevistas e indo a programas de TV. Os próprios estúdios da Apple se tornaram antro de celebridade, coisa de gente fina, só abrindo suas portas de vez em quando apenas para nomes consagrados no mundo todo.

O disco se encerra com o refrão “... and in the end, the love you take, is equal to the love you gave”, traduzindo, “… e no fim de tudo, o amor que você leva é igual ao amor que você deu”.

A Roda Cármica, para os Beatles, era umas realidade gritante na Estrada do Mosteiro.