Sicredi Novos Horizontes Itaí
Carlinhos Barreiros

O Corre

Por Carlinhos Barreiros
Imagem ilustrativa

Esta narrativa me foi trazida pelo Fernando que ouviu do Heraldo que teria escutado da própria boca de um tal de Romualdo, que não conheço. Então, tanto pode ser verdade quanto mentira. Vou repassar para vocês, que podem tirar suas próprias conclusões sobre a veracidade do texto. Eu, pessoalmente, achei lorota.

Então o tal de Romualdo teria ido tomar chá da tarde com duas amigas finas, a Estela e a Amélia. As duas, entre uma xícara de chá e um biscoitinho mil-folhas fofocavam sobre a vida alheia, enquanto limpavam farelos dos cantos dos lábios venenosos. A certa altura da cerimônia, a tal de Stela se vira para a tal de Amélia e dispara:

- Amélia, querida, estou tão contente, soube que o Justiniano, nosso amigo, está namorando um russo do Ballet Bolshoi de Curitiba! Isso não é o máximo, amiga? Dizem que esse bailarino, o Andrey, é lindo de viver! E que já solou “O Lago do Cisne” no Gran Ballet de Berlim! Não é o máximo?

Ao que a outra prontamente retruca:

- Ah, isso é notícia velha! Até já caducou, todo mundo ferveu de saber! Mas aposto que você não sabe que o Cristiano, nosso OUTRO amigo, está namorando o CEO da Google na filial do Rio de Janeiro! Me disseram que é um gringo lindo, de São Francisco, na California. O Cristiano está bem servido (as duas riem) já que esse tal de Timothy parece ser um rato de academia muito bem-dotado! (as duas gargalham, com as xícaras de chá na mão).

Ato contínuo, como se tivessem ensaiado, Stela e Amélia se viram para Romualdo, que até então se mantivera calado. Amélia pergunta:

- E você, Romú? Como está de amores? Soube que está de namorado novo. Não vai contar para as amigas quem é ele? Exigimos saber!

Stela completa:

- Sim, sim, conta logo Romú! Você, que vive se apaixonando, está com quem agora?

Romualdo se contorce na cadeira, sua frio e até esmigalha um biscoitinho de polvilho entre os dedos, de tão nervoso, tentando fugir do interrogatório das amigas fofoqueiras, mas não dá. Vencido, resolve responder:

- Ah, está bom então, estou sim. Estou namorando um garoto novinho. O nome dele é Rubens. Rubinho.

Amélia: - Ai, que doçura! Amei! Até o nome é lindinho!

Stela: - Hum, que chique! Novinho é? Cuidado com a polícia hein? (As duas caem na risada, Romualdo não diz nada). Stela insiste:

- Mas e aí Romú, conta mais sobre o Rubinho.

Amélia: - Queremos saber tudo, até os detalhes mais sórdidos! (as amigas caem na gargalhada, Romualdo não se aguenta e ri também).

Daí Stela pergunta: O que ele faz na vida?

Romualdo resolve responder:

- Bem, o Rubinho faz uns corres.

Amélia retruca, encantada:

- Ai Romú que romântico! Amei! Que coisa mais moderna, sustentável e clean! Arrumou um atleta, um corredor?

Romualdo resolve abrir o jogo logo:

-Não, não, Amélia, Rubinho faz outro tipo de corre. Nada a ver com pista de corrida ou atletas.

Stela estranha a resposta:

- Outro tipo de corre? Como assim?

Pacientemente, como se estivesse ensinando o beabá a duas analfabetas Romualdo pacientemente explica:

- Corre, minhas queridas, no jargão policial, é um eufemismo para tráfico de drogas. Rubinho não é dançarino do Bolshoi nem CEO da Google: é traficante!

A história se perde aqui, mas dizem que depois desse dia (ou dessa tarde de chá) Amélia e Stela nunca mais trocaram uma palavra com Romualdo. O qual, ao que tudo leva a crer, se deu muito bem com o tal de Rubinho. Com corre no meio e tudo mais.

E você, que chegou até aqui? Dê seu veredito: essa história é verdadeira ou é mentirosa?

CARLINHOS BARREIROS:

É professor, jornalista e escritor. Atuou em Piraju nos jornais “Folha de Piraju”, “Observador” e “Jornal da Cidade”, sempre como cronista ou crítico de Cinema/Literatura. Publicou o livro de contos “Insânia: O Lado Escuro da Lua” (esgotado). Em 2006, foi o primeiro colocado no Concurso de Poesias, Contos e Crônicas da FAFIP (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Piraju) com o conto “Sade no Sertão”.

Atualmente, revisa os originais de seu livro de contos ainda inédito, “Freak Show”. Mora em Piraju, onde contribui eventualmente com a imprensa local com crônicas/contos e agora valoriza o site farolnoticias.com.br com seus comentários imperdíveis.

Seu ensaio sobre a contracultura em Piraju nos Anos 60 e 70 do século passado: “Eu, Carlinhos Barreiros, drogado e prostituído” foi publicado com sucesso no blogue da USP (Universidade de São Paulo), do jornalista Luciano Maluly, ficando no top dos Mais Lidos por várias semanas.