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Carlinhos Barreiros

Os oitentões

Por Carlinhos Barreiros
Foto ilustrativa

Fuçando a internet outro dia deparei com uma foto mostrando Paul Anka e Frankie Avalon juntos, levando um papo animado, ao que parece. A quem tem menos de 40 anos, explico: tanto um como outro são pop stars de magnitude máxima, com carreiras iniciadas nas décadas de 50 do século passado e na ativa até hoje, Paul com 83 anos e Frankie com 84. Venderam milhares de discos, fizeram filmes em Hollywood e se imortalizaram como as lendas que são.

Anka lançou “Diana” em 1957, quando tinha 15 anos, vendeu 1 milhão de cópias logo de cara e depois, já mais velho, com uma carreira recheada de hits e mais hits (You Are My Destiny, My Heart Sings, Crazy Love, My Home Town, Puppy Love, Lonely Boy, Eso Beso, Crying In The Wind, Having My Baby, I Dont Like To Sleep Alone, entre outras) ainda fez a versão de uma obscura canção francesa (Comme D´Habitude, 1967) transformando-a em “My Way”, que Sinatra gravou. Pronto. Não precisava mais nada para deixar o nome na história. Já Avalon, cantor de baladas melosas para adolescentes suspirantes fez fama e fortuna com “Venus” (1959)e “Why?” (mesmo ano), carros-chefes para corações enamorados até hoje.

Mas deixemos Paul e Frankie de lado, senhores octagenários que ainda se sacodem em cima de um palco e voltemos nosso foco para os artistas nacionais, de idade semelhante e ainda na ativa, querendo provar que hoje os 80 são os novos 50. Será? Tenho minhas dúvidas, mas vamos lá.

Claro que o primeiro nome que nos vem à mente é o de Roberto Carlos, que esta semana (escrevo no dia 14 de abril), no dia 19, completa 83 anos. Uau!!! E o cabelo dele, pasmem, não embranqueceu um fio sequer! Roberto continua com seu show anual de Natal na Globo, que só gente velha assiste e, no mais, pouco se ouve falar dele o resto do ano. De vez em quando sai naquele cruzeiro musical no qual só velhos viajam e recentemente, depois de décadas sem compor,  lançou uma música sobre as rosas que distribui às fãs no fim dos shows e outra, o cover de “Evidências”, de Chitãozinho & Xororó, uma das músicas mais chatas do mundo. Precisava? No mais, para Roberto, estão distantes os dias do “Broto do Jacaré” ou “Os Sete Cabeludos”. Pena. Ele já foi bem bacana.

Outro que finge ignorar a idade e rebola mais que boneco de mola é o vetusto Ney Matogrosso, senhor de 82 anos que pensa que ainda tem 27. Ney usa os mesmos trajes esquisitos de 50 anos atrás, do tempo dos “Secos & Molhados” e pasmem: não faz feio não! Maquiado, cheio de caras & bocas como sempre, arrasa cantando “A Rosa de Hiroxima” ou “Homem com H”, espécime absolutamente em extinção nesses tempos de identidade de gêneros. Macho pra ninguém botar defeito, tenho certeza que Ney odiaria ser chamado de Matogrosse e só por isso está explicada a permanência dele no trono do sucesso.

Bethânia e o mano Caetano anunciaram a primeira turnê juntos - depois de velhos – 82 e 77, respectivamente - e os ingressos se esgotaram em quinze minutos. Novas datas foram abertas e os baianos ensaiaram sorrisos felizes, já sentindo o tilintar do dindin. Uma vez já foram os Novos Baianos, juntos com Gil e Gal, na década 70 do século passado. Curiosamente, a nova tour não se chamará “Os Velhos Baianos”, certamente por causa da ausência de Gil e porque Gal foi trinar no Céu. (Não que eu acredite em Céu ou outras baboseiras, mas fica bonito escrito. Não fica?)

Quando morei em São Paulo fui a todos os shows de Bethânia que consegui ir e até chorava quando ela cantava, de pé no chão,  “Negue”, aquela música brega do Adelino Moreira. Nunca fui a nenhum show de Caetano, porque ou ele estava exilado fora do país por causa dos militares babacas da ditadura ou estava escrevendo musiquinhas bonitinhas para seus musos cariocas: o Menino do Rio, o Leãozinho e o Menino-Deus. E de Caetano pode se falar tudo que o lugar dele no panteão dos Monstros Sagrados da MPB está garantido, desde que se postou nas esquinas da Ipiranga com a São João, abriu os braços, gritou eu amo São Paulo e compôs “Sampa”. Tem gênio que só aparece uma vez a cada 300 anos.

A Musa da Jovem Guarda, Wanderléa (79) também está prestes a adentrar os 80 anos. Wandeca pouco tem aparecido na mídia e nem sei se ainda faz shows por aí. Se não faz, deveria, ao menos para mostrar as pernas esculturais que um dia abalaram Paris! O que ela não pode nunca mais é cantar em público “Exército do Surf”, por causa da letra: ”nós somos jovens, jovens, jovens, somos o exército, o exército do surf”... Creio que não cairia bem para a eterna Ternurinha, hoje uma senhora de respeito. Gente maldosa que odeia a Jovem Guarda refere-se debochadamente à Wandeca e Martinha (76), rindo e sussurrando que elas deveriam formar a dupla “Wandervéia & Mortinha”, vejam só que judiação! Não fosse pura inveja deles, eu ia até dar risada!

Bem, então, se os 80 – hoje – são os novos 50 (de antes) faço votos para que todos os astros e estrelas acima continuem as carreiras vitoriosas com shows, turnês e temporadas. Afinal, nos acompanham há décadas e alegraram nossas vidas até hoje. Vida longa (mais longa) a todos.

PS: esqueci do Chico Buarque. Mas Chico (79) merece uma matéria inteira só dele. Já fiz antes? Faço outra, uai!

 

 

 

 

 

 

 

 

CARLINHOS BARREIROS:

É professor, jornalista e escritor. Atuou em Piraju nos jornais “Folha de Piraju”, “Observador” e “Jornal da Cidade”, sempre como cronista ou crítico de Cinema/Literatura. Publicou o livro de contos “Insânia: O Lado Escuro da Lua” (esgotado). Em 2006, foi o primeiro colocado no Concurso de Poesias, Contos e Crônicas da FAFIP (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Piraju) com o conto “Sade no Sertão”.

Atualmente, revisa os originais de seu livro de contos ainda inédito, “Freak Show”. Mora em Piraju, onde contribui eventualmente com a imprensa local com crônicas/contos e escreve para os blogues “Língua de Trapo” e farolnoticias.com.br, ambos da cidade de Itaí.

Seu ensaio sobre a contracultura em Piraju nos Anos 60 e 70 do século passado: “Eu, Carlinhos Barreiros, drogado e prostituído” foi publicado com sucesso no blogue da USP (Universidade de São Paulo), do jornalista Luciano Maluly, ficando no top dos Mais Lidos por várias semanas.