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Preso de penitenciária em Itaí é ouro em Olimpíada de Matemática

O colombiano medalhista enfrentou uma concorrência pesada.
Colombiano Edisson cumpre pena na Penitenciária Cabo PM Marcelo Pires da Silva

FONTE e FOTO: Marcus Liborio - Assessoria de Imprensa CRN/SAP

“A única saída é a educação. Eu já vi esse horizonte, mas não o persegui. Porém, sei que ele ainda existe e que posso alcançá-lo. Só depende de mim”. A frase é do reeducando Edisson Humberto Barbativa Murillo, 33 anos, ao descrever o sentimento de conquista após receber medalha de ouro da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).

A entrega da insígnia ao colombiano ocorreu na semana passada (24/1), na Penitenciária “Cabo PM Marcelo Pires da Silva” de Itaí - unidade prisional para estrangeiros, onde o medalhista cumpre pena. Esta é a primeira vez em toda história do torneio nacional que um preso fatura o prêmio máximo, informou a organização da competição.

Edisson participou da disputa em 2017 (13.ª edição da Obmep), mas a medalha foi disponibilizada somente agora. Na época, ele cursava o Ensino Fundamental 2 na escola vinculadora, instalada dentro do presídio, e foi incentivado pela professora de matemática a se inscrever no torneio.

Já o resultado da 14.ª Olimpíada, realizada no ano passado, foi divulgado recentemente e outros nove detentos, que cumprem pena nos presídios abrangidos pela Coordenadoria de Unidades Prisionais da Região Noroeste (CRN), também foram premiados: dois conseguiram medalhas (prata e bronze) e o restante recebeu menções honrosas.

CONCORRÊNCIA PESADA - O colombiano medalhista enfrentou uma concorrência pesada. A primeira fase da Olimpíada reuniu 18 milhões de inscritos, sendo que 900 mil avançaram para a etapa seguinte. “Desse total, saíram somente 500 medalhas de ouro para todo o Brasil”, enumera o coordenador Regional da Obmep (Região SP01 - Presidente Prudente), José Carlos Rodrigues.

Edisson veio para o Brasil em 2007, para fugir da violência na Colômbia. “Havia muita perseguição aos jovens”, relata. Em 2014, foi preso por tráfico de drogas e, desde então, cumpre pena em Itaí.

Ele conta que sempre teve habilidade para aprender e decidiu se inscrever na Olimpíada para testar seus conhecimentos. “Aceitei o desafio e pensei: ‘Vou dar o meu melhor’. Não imaginava que chegaria tão longe. Para mim, é uma grande vitória”.

Diretora da escola vinculadora, Tânia Cristina Moraes de Queiroz defende que a educação é a única forma de transformar uma pessoa. “Aqui [na prisão], ela [educação] cumpre o papel de colocar de novo o apenado na sociedade, para que ele possa alçar outros horizontes”.

Para o diretor do Centro de Trabalho e Educação da unidade prisional, Gilberto Aparecido de Farias, a conquista do reeducando é resultado de um trabalho em equipe. “Isso se deve também à presença dos professores em sala de aula, dentro do presídio”.

 ‘MINHA INTERNET SÃO OS LIVROS’ - Atualmente, Edisson é monitor na biblioteca da penitenciária. Ele é responsável por cuidar de mais de 22 mil livros - o acervo contém exemplares em 37 idiomas. “A minha Internet são os livros. Vou continuar meus estudos e, quando deixar a prisão, pretendo investir na minha carreira profissional. Quero fazer faculdade e, quem sabe, me tornar um professor de matemática”, finaliza.

QUASE DOBROU - A participação de presos vem crescendo a cada edição da Olimpíada. Para se ter uma ideia, o número de inscrições referentes aos presídios vinculados à CRN quase dobrou em um ano. Somente no ano passado, foram 4.094 inscritos - aumento de 47,26% em relação a 2017, quando registrou-se 2.780 inscrições.

Realizada pelo Instituto Nacional de Matéria Pura e Aplicada (IMPA), a Obmep já é uma realidade no sistema prisional paulista desde 2012, quando passou a ser aplicada nas unidades penais da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP).